segunda-feira, 16 de julho de 2012

O DISCURSO PROIBIDO


Em 16 de dezembro de 1968, três dias após a decretação do AI-5, a solenidade de colação de grau dos concludentes da Universidade Federal do Ceará, que seria realizada na concha acústica da Reitoria, foi cancelada pela censura.
Trinta anos depois, em 16 de dezembro de 1998, a solenidade foi finalmente realizada, na mesma concha acústica, com todas as formalidades e emoções que a ocasião merecia.
O orador oficial escolhido à época pelos formandos, o coreauense Galba Gomes leu, na solenidade simbólica, o mesmo discurso que havia elaborado há 30 anos.
Tive o privilégio de ler o "discurso proibido", uma obra-prima que retrata fielmente os sentimentos de uma geração brilhante, além da profusão intelectual, coragem e consciência político-social do jovem odontólogo de origem palmense.  
Trata-se de uma ode às causas que comovem: a liberdade, a justiça social, a educação para todos, o desenvolvimento econômico com respeito à dignidade da pessoa humana... Uma ode demasiadamente atual, já passados quase 45 anos, posto que quase todas as questões que afligiam o jovem Galba Gomes ainda insistem em perturbar nossos dias. 
Galba Gomes pintou, com o pulsar de suas veias, um memorável quadro da nossa história. E, ao contrário de muitos "yuppies sabor baunilha", permanece na luta pela construção de um mundo mais justo.  
Eis o fecho do "discurso proibido", uma página sublime do "rebelde sem pausa", o maior nome das letras palmenses: 

"(...) ocupemos o nosso território; mecanizemos a lavoura; asseguremos a vida atual e a futura das nossas populações rurais; humanizemos a existência dos nossos operários; e eduquemos a nossa juventude para a construção do Brasil como potência mundial. Criemos as nossas indústrias de base. Incrementemos a nossa produção de petróleo. Desenvolvamos as nossas forças produtivas em todos os sentidos.
Aumentemos o número de nossas escolas primárias, médias e superiores. Formemos bons professores. Implantemos no Brasil o ensino gratuito. Enfim, pelo nosso desenvolvimento, asseguremos um mercado de trabalho para os que se preparem para a vida nas faculdades e universidades do País.
Juremos, meus colegas, batalhar pela grandeza material do Brasil. Mas juremos também lutar contra a injustiça social, contra a revogação tácita dos direitos do homem pelos códigos e constituições ditatoriais. Fechemos nossas portas aos estrangeiros que ainda hoje cobiçam nossas riquezas, mas abramos nossos braços àqueles que, emigrando de suas pátrias, queiram trabalhar conosco, ombro a ombro, respeitando e amando nossa bandeira.
E que nosso juramento não passe de mera formalidade. A nossa geração responde pelo futuro do Brasil. Identifiquemos a nossa vida com o futuro do Brasil: nos sofrimentos, nos sonhos, nas esperanças. Dentro de alguns minutos, o destino colocará entre nós a distância física exigida pela diversidade de nossas profissões. Mas estejamos certos de que se faz necessário um ponto de encontro, na encruzilhada de nossos caminhos. Esse ponto de encontro, vós bem o adivinhais: é o futuro de nosso País." (Galba Gomes)

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